Decifre os enigmas do filme "O Iluminado"

Resenha do filme O iluminado (1980)
Suspense, medo, loucura, solidão, aliados a aparições fantasmagóricas, trilha sonora de dar calafrios, mensagens subliminares relacionadas ao holocausto, genocídio de povos indígenas e até conspirações governamentais envolvendo a chegada do homem à lua fazem da adaptação cinematográfica do livro de Stephen King um clássico do terror, genial mesmo na era da tecnologia 3D.

Estrelado por Jack Nicholson (Jack Torrance), Shelley Duvall (Winifred "Wendy" Torrance), Scatman Crothers (Dick Hallorann) e Danny Lloyd (Danny Torrance), o filme do diretor Stanley Kubrick, lançado em 1980, narra a história de uma família que fica confinada no Hotel Overlook durante a temporada de inverno no Colorado. Jack vê aí a chance de ter paz e conseguir escrever seu próximo livro. Ao ser contratado, é alertado de que o antigo zelador matou a mulher, filhas e depois se suicidou. Mas ele não se incomoda.

Danny, filho de Jack, têm visões sobrenaturais, por isso é chamado de “o iluminado”. Aparições relacionadas ao crime passam a atormentar o menino. Conforme o tempo passa, Jack começa a enlouquecer e tenta matar filho e esposa. 

Com o aumento da loucura de Jack, a fotografia vai escurecendo, se tornando menos nítida, até finalmente ficar fria, em tons azulados, com a neve atrapalhando completamente a visão, num reflexo do atordoado estado mental dele. Os cenários coloridos e muito iluminados criam um ambiente intimidador. O tapete laranja, vermelho e marrom, em que Danny brinca com carrinhos antes de ver a porta 237 aberta, tem um efeito hipnótico, nos levando para dentro do quarto do crime. O som também colabora com o clima de tensão, através do uivo do vento durante a nevasca ou, por exemplo, quando Danny passeia de triciclo pelo Hotel e alterna entre o alto barulho dos tacos de madeira e o silencio absoluto do tapete. Kubrick deixa a câmera no nível do triciclo, nos colocando na posição do garoto e, portanto, vulneráveis a qualquer perigo que possa aparecer. A assustadora trilha sonora de Wendy Carlos e Rachel Elkind tem um tom muito sombrio, caracterizando-se num dos elementos mais aterrorizantes da narrativa. A trilha sonora não serve como um complemento que apenas realça o que o meio imagético comunica, tocada em segundo plano para enfatizar as ações, emoções ou diálogos dos personagens, ela é colocada no mesmo plano da imagem, possuindo vida própria e narrando uma história à parte.

Os cenários grandiosos e ameaçadores, os planos muito abertos que nos dão uma sensação de vazio e insegurança, o labirinto que reforça a ideia de Jack ter se perdido em sua própria mente fazem o suspense.

Apesar de passados mais de 30 anos do seu lançamento, “O Iluminado” reúne ainda muitos elementos que deixam as pessoas intrigadas, perguntando qual o seu real significado. Para tentar desvendar alguns dos elementos do filme, o diretor Rodney Ascher lançou, em 2012, o documentário “O Labirinto de Kubrick”, que reúne uma série de teorias sobre as possíveis intencionalidades do diretor.

O hotel Overloock foi construído em um terreno que era um cemitério indígena. Diversos quadros de índios decoram as paredes. A famosa cena da sala sendo coberta de sangue caracteriza-se como elemento simbólico de repressão, pois as portas dos elevadores estão fechadas, e do genocídio pela quantidade de sangue. 

O diálogo que Jack tem com Wendy, narrando a história dos três porquinhos pode remeter ao holocausto já que o termo "porco" era usado pelos nazistas para designar os judeus. O uso de uma máquina de escrever alemã, águias em várias partes do cenário e a constante repetição do número 42, que simboliza o ano em que os judeus começaram a ser exterminados, explicitam essa possibilidade.

A associação com o minotauro também se faz possível quando se observa a postura de Jack perseguindo o filho no labirinto. A cena em que Jack está com um olhar bizarro dentro do hotel observando Wendy e Danny brincando do lado de fora alicerçam essa hipótese. 

Há uma teoria de que Kubrick foi um dos responsáveis da gravação da viagem à Lua feita pela nave Apollo 11, em 1969. Há os que acreditem que o diretor participou dessa conspiração governamental, e em “O Iluminado” tentou, a partir de mensagens subliminares, confessar o ato. São mensagens como o carpete emblemático do hotel, a camisa de Danny com um desenho do Apollo 11, diálogos de Jack. Outra bizarra teoria é a de que o diretor do hotel, Stuart Ullman, tem uma ereção ao apertar a mão de Jack. 

O fato é que Stanley Kubrick nunca fez um filme que não dissesse alguma coisa. Se todas as supostas mensagens subliminares de “O Iluminado” foram intencionais, não há como saber, mas fica a cargo da subjetividade de cada um a análise das suas possibilidades.


Por Paola Brigolla

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