Estilos de documentários


Bill Nichols defende que cada documentário tem uma voz própria, ou seja, uma maneira particular de relatar as coisas do mundo.  Para ele existem seis estilos principais de documentários: poético, expositivo, participativo, reflexivo e performático. 

A ordem é, de alguma forma, cronológica. Mas isto não representa uma superação de um estilo por outro. Todos eles continuam a existir. Representam apenas maneiras distintas de se pensar a realidade. E mais importante, um gênero de documentário não precisa ser “puro”. É possível misturar, em uma única produção, diferentes estilos.

Modo poético
Os documentários poéticos retiram do mundo histórico sua matéria-prima, mas a transformam de maneiras diferentes. O modo poético começou juntamente no contexto do modernismo, como uma maneira de representar a realidade em fragmentos, impressões subjetivas, atos incoerentes e ações vagas. Ao documentário poético importa mais a emoção que a razão. Não há uma lógica linear e rígida a ser seguida, permitindo assim maior experimentação. Não há uma complexidade psicológica nos personagens.
Chuva (Joris Ivens, 1929) – Imagens transmitem sentimentos e não argumentos sobre a realidade.
Um cão andaluz (Luis Buñuel e Salvador Dali, 1928) – Mudanças abruptas de tempo e espaço/ influência do surrealismo – arte como libertação diante da lógica e da razão/ ênfase no mundo do inconsciente e do sonho.




Modo expositivo
Agrupa fragmentos do mundo histórico em uma perspectiva retórica e argumentativa. Dirige-se diretamente ao espectador , através de legendas e de narração. Esses filmes adotam o comentário com voz de Deus (voz over) – o orador é ouvido, mas jamais visto (objetividade e autoridade do narrador). Os documentários expositivos dependem de uma lógica informativa transmitida oralmente. As imagens desempenham papel secundário (apenas ilustram). Vemos as imagens como comprovação ou demonstração do que é dito.  Marco para este tipo de documentário – o escocês John Grierson, anos 30, que foi o primeiro a utilizar a palavra ‘documentário’. Grierson se interessava pelos problemas concretos dos anos 30 – pobreza, desemprego, etc.


Modo Observativo
Nos documentários observativos “olhamos para dentro da vida no momento em que ela é vivida. Os atores sociais interagem uns com os outros, ignorando os cineastas”.  É como se a câmera não estivesse presente. Tem pretensão de neutralidade e naturalidade. Transmitem a ideia de realidade. Não há narradores nem entrevistas. Muitos chegam a não utilizar nem mesmo legendas ou efeitos sonoros/trilha. Um dos primeiros documentários observativo foi O triunfo da vontade (Leni Riefenstahl, 1935), filmagem de um comício nazista em 1934. Leni Riefenstahl tenta passar a impressão de um registro espontâneo e desinteressado do fato. Mas sabe-se que tudo foi cautelosamente pensado e coreografado...a entrada dos líderes em cena, os discursos (repetidos), as tomadas e ângulos de câmera etc.  
Marco para este estilo de documentário – cinema-direto norte-americano cinema direto norte-americano, encabeçado por Robert Drew e Richard Leacock, foi um dos responsáveis por romper com o estilo clássico criado nos anos 30. A principal característica desse movimento é a defesa da não-intervenção, ou seja, a câmera deve ser a própria extensão do olhar humano.




Modo participativo
Ao contrário do estilo observativo, o modelo participativo prevê a intervenção do cineasta em cena, para dar a sensação de como é estar em determinada situação. Este tipo de documentário evidencia que a câmera interfere na realidade dos fatos. Pode-se ver e ouvir o cineasta em ação. Recusa a voz de Deus para privilegiar a interação de pessoas, em carne e osso, no momento e local dos fatos. Reduz, assim, a importância do convencimento do espectador.
Marco para este estilo de documentário - Em 1960, filme Crônicas de um verão, de Jean Rouch e Edgar Morin. Este filme lança novas bases para a prática documental, com características completamente opostas ao cinema direto. Rouch foi responsável por criar o cinema-verdade, um movimento marcado pela intervenção/participação do documentarista.



Modo reflexivo
O modo reflexivo, pode-se dizer, questiona o próprio modo como o documentário atua e intervém na realidade. Negando a premissa da capacidade da câmera de representação fiel da realidade, o modo reflexivo estimula a consciência do espectador a respeito do modo de se fazer documentários. Segundo Nichols, “o modo reflexivo é o modo de representação mais consciente de si mesmo e aquele que mais se questiona” (NICHOLS, 2007, p. 166). Exemplo: O homem da câmera (Vertov).

Modo performático
O modo performático é aquele que dá ênfase às características subjetivas das experiências de vida e dos relatos/depoimentos de personagens. Há uma combinação entre acontecimentos reais e imaginários, conduzindo o espectador de maneira emocional, e não por argumentos lógicos ou científicos. Segundo Nichols, o documentário performático “nos convida, como fazem todos os grandes documentários, a ver o mundo com novos olhos e a repensar a nossa relação com ele” (NICHOLS, 2007, p. 176). Como os primeiros documentários, mistura elementos ficcionais com técnicas da oratória para tratar de questões sociais complexas. Traz consigo algumas características do cinema experimental ou de vanguarda. 

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005.

6 comentários:

Lelezuda135 disse...

Obrigada,me ajudou muito!

Lelezuda135 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Obrigada

Gabyrhcp15 disse...

AMEEEII!!! Mto bem explicado, trouxe belos exemplos! Texto perfeito, parabéns!!

Alex Pimentel disse...

Muito bom! Obrgado.

Unknown disse...

Adorei me ajudou já sei como fazer o meu