Consuelo Lins (2004), em O Documentário de Eduardo Coutinho - televisão, cinema e vídeo,
reconstrói a trajetória de Eduardo Coutinho, desde sua fase inicial na
televisão e no programa Globo Repórter,
na década de 70, até se tornar o maior e mais respeitado documentaristas
brasileiro.
Lins vai mostrando como, programa a programa, filme a filme,
Coutinho foi construindo um estilo próprio, seu estilo de representar e dar voz
aos entrevistados, de maneira ética e respeitosa. Segundo a autora, o cinema de Coutinho é
marcado, principalmente a partir dos anos 80, por diversos aspectos peculiares:
- abolição do locutor ou voz-over;
- rejeição do método particular/geral. Ao
invés disso, procura apresentar as ambigüidades e multiplicidade dos fatos, as
incoerências dos depoimentos e as diferentes dimensões que um fato pode ter;
- recusa-se a criar tipos sociais,
caricaturas ou quaisquer outros elementos generalizantes da narrativa
cinematográfica;
- deixa evidente que o documentário intervém
e altera a realidade filmada. Em seus documentários, ele opta por deixar vários
elementos que denunciam a interação: a voz do cineasta, a equipe de filmagem em
cena etc;
- o entrevistado não é objeto do documentário,
e sim sujeito possuidor de voz;
- opta
por filmar em espaço e tempo bem definidos;
- investiga as particularidades de pessoas
anônimas, e não os aspectos gerais que as identificam como classe social ou
grupo;
- evita usar clichês nos temas tratados;
evita principalmente o olhar de piedade/assistencialismo sobre as classes
desfavorecidas;
- evita o olhar de fora para dentro. Quem
fala sobre determinada realidade são os próprios envolvidos, e não
especialistas.
O cinema de Eduardo Coutinho trouxe ao público
diferentes produtos sobre as mais distintas realidades. Entre seus principais
documentários estão: Cabra marcado para morrer (1964-84), Santa Marta, duas semanas no morro (1987),
Boca de Lixo (1992), Santo forte (1999), Babilônia 2000 (2001), Edifício Máster
(2002) e Peões (2004). Porém, segundo Lins, uma das maiores contribuições que
Coutinho trouxe ao mundo com seus documentários é a noção de respeito,
refletidas nas palavras do próprio Coutinho:
O que quer dizer
respeitar uma pessoa? É respeitar sua singularidade, seja ela uma escrava que
ama a servidão, seja uma escrava que odeia a servidão. Muitos documentaristas
só ouvem as pessoas que dão respostas de acordo com suas intenções, o que gera
um acúmulo de respostas do mesmo tipo, previsíveis, e que são aquilo que o
diretor quer ouvir.
LINS,
C. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
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